As universidades russas sob alçada do Ministério de Educação vão passar a iniciar a semana com o içar da bandeira tricolor, o hino e aulas de educação patriótica, à semelhança do que já acontece nas escolas desde o ano passado. Que tal as ministras angolanas do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação (Maria do Rosário Teixeira de Alva Sequeira Bragança), e da Educação (Luísa Maria Alves Grilo) proporem ao dono do reino a adopção da mesma estratégia a nível das universidades e escolas?
O ministro da Educação russo, Seguéi Kravtsov, afirmou hoje que “nas universidades subordinadas ao Ministério da Educação, as universidades pedagógicas, a semana começará com o hino nacional, o içar da bandeira nacional e também com aulas ‘Conversas sobre o que importa'”.
De acordo com a agência oficial RIA Nóvosti, na Rússia há 34 universidades pedagógicas sob a alçada do Ministério da Educação.
Em Setembro de 2022, a Rússia implementou o içar da bandeira russa e o hino como uma obrigação em todas as escolas do país, assim como uma aula às segundas-feiras dedicada à educação patriótica e designada “Conversas sobre o que importa”.
As aulas são leccionadas a estudantes do 1.º ao 10.º ano e estão adaptadas às diferentes idades, abordando especialmente a política russa na Ucrânia.
A iniciativa foi criticada por algumas associações de pais que relacionaram a sua criação com o desejo das autoridades de fazer propaganda da campanha militar russa no país vizinho.
Em Dezembro de 2022, Seguéi Kravtsov adiantou que a Rússia planeava incluir nos livros escolares, de forma obrigatória, a história da campanha militar na Ucrânia, que na próxima sexta-feira cumprirá um ano.
A nova matéria a ser estudada nas escolas encontra-se em revisão no Ministério da Justiça russo.
Hoje, Seguéi Kravtsov afirmou que o seu ministério decidiu realizar estas aulas semanais também para os pais, embora o formato ainda esteja a ser estudado.
É TUDO UMA QUESTÃO DE EDUCAÇÃO… PATRIÓTICA
Em Março de 2018, as Forças Armadas Angolanas foram exortadas, no Huambo, a “revestir-se” (o termo é da Angop) de alto sentido de fidelidade patriótica que conduz a nunca trair o juramento prestado à Bandeira Nacional e os interesses superiores da Nação… do MPLA.
A exortação veio do Chefe do Estado-Maior General adjunto das FAA para Educação Patriótica, general Egídio de Sousa Santos “Disciplina”, quando falava na abertura do 16º seminário metodológico dos órgãos de Educação Patriótica das FAA, sob o lema “Pelo reforço da organização e disciplina – revitalizemos o trabalho de educação patriótica das FAA”.
O general lembrou aos militares que ao abandonarem a unidade onde estiverem colocados ou a farda a si atribuída por imperativo do compromisso assumido com à Pátria, cometem acto de deserção, susceptível de constituir crime militar, por ser infiel ao seu juramento.
“O militar que age desta forma não é um patriota que esteja realmente comprometido com a defesa dos mais altos interesses da Nação angolana e nem é digno de ser considerado um bom cidadão, capaz de contribuir com o seu esforço na defesa da independência nacional, da integridade do solo pátrio, nem tão pouco no desenvolvimento económico-social do país e do bem-estar da população”, asseverou o general nesta lição de patriotismo.
Incorrem no mesmo crime, segundo Egídio de Sousa Santos, os indivíduos que colaboram com este tipo de militares, facilitando a sua colocação noutras unidades, sem a prévia anuência do comandante da unidade de origem, visto que a instituição castrense existe para cuidar do homem em todas as suas dimensões, designadamente física, espiritual, moral e humana.
Neste sentido, o responsável militar orientou os órgãos de Educação Patriótica a trabalhar, de forma conjunta com os de Educação Jurídica, para elevar os sentimentos de patriotismo, civismo, liberdade e de justiça.
O general afirmou que os órgãos de Educação Patriótica são importantes ferramentas para que o efectivo tenha um comportamento baseado no cumprimento da missão na estrita observância consciente das normas e regulamentos militares.
“Esta coordenação entre os órgãos patrióticos e jurídicos das FAA deve ser comparada aos fármacos combinados no organismo humano, quando se pretende combater determinadas enfermidades, de modo a que os oficiais, sargentos e praças compreendam e aceitem a observância das normas da vida castrense que em nenhuma outra instituição social se podem exigir”, disse.
Participaram no seminário, comandantes adjuntos para Educação Patriótica dos três ramos das FAA (Exército, Força Aérea e Marinha de Guerra), chefes das direcções de educação patriótica, das repartições da direcção principal desta área e comandantes adjuntos das unidades de subordinação central.
DESDE A BARRIGA DA MÃE (OU DA AVÓ)
Perante a necessidade patriótica, talvez fosse aconselhável instituir, com força de lei com a lei da força, a obrigatoriedade da educação patriótica começar logo quando as nossas crianças ainda estão na barriga da mãe.
Por alguma razão a Organização Nacional de Pioneiro Agostinho Neto almeja apostar na educação patriótica, cívica e moral das crianças angolanas, sendo estas o futuro do país. Na Coreia do Norte o sistema é o mesmo e funciona. Portanto…
Em tempos, curiosamente também no Huambo, a então secretária nacional para a organização de quadros da OPA, Maria Luísa, disse que a continuidade do processo de desenvolvimento de Angola passa, necessariamente, por uma boa educação das crianças em todas as vertentes.
E educação tem de ser “patriótica”? Pelos vistos, sim. Não basta ser educação. Maria Luísa realçou ainda que a família desempenha um papel preponderante na educação patriótica, moral e cívica dos menores, para melhor se integrarem na sociedade. Apelou também às crianças para se dedicarem à formação académica, com vista a participarem, no futuro, activamente no processo de desenvolvimento do país.
Oficialmente o objectivo desta massiva campanha de patriotismo tem como objectivo elevar o espírito patriótico dos menores, bem como dar a conhecer os benefícios da independência. Tal e qual como nos tempos da militância marxista-leninista do pós-independência (11 de Novembro de 1975), o regime do MPLA continua a reeducar o povo tendo em vista e militância política e patriótica… no MPLA.
De facto, tanto a militância política como a patriótica são sinónimos de MPLA. E a educação patriótica começa ainda dentro da barriga da mãe. Ou até antes, se for possível.
Num Estado de Direito, que Angola diz – pelo menos diz – querer ser, não faz sentido a existência de organismos, entidades ou acções que apenas visam a lavagem ao cérebro e a dependência perante quem está no poder desde 1975, o MPLA. Dependência essa que, como todas as outras, apenas tem como objectivo o amor cego e canino ao MPLA, como se este partido fosse ainda o único, como se MPLA e pátria fossem sinónimos.
Por norma os trabalhos de lavagem cerebral dos putos e dos jovens incide sempre sobre os “princípios fundamentais e bases ideológica do MPLA”, os “discurso do Presidente”, os “princípios fundamentais de organização e funcionamento da MPLA” e “o papel da juventude na conquista da independência Nacional e na preservação das vitórias do povo angolano”.
Nem no regime de Salazar se fazia um tão canino culto do regime e do presidente como o faz o MPLA, só faltando (e já esteve mais longe) dizer que existe Deus no Céu e o MPLA na terra.
Folha 8 com Lusa